quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Quem sou eu?


   Quem sou eu, entre a casa e o trabalho? - Foi a pergunta que me ofereceram hoje, para reflectir.
A minha primeira reacção a esta inesperada questão foi negar a sua pertinência: mas como? Porquê? Não basta ser quem sou num lado e noutro? Para que é que ainda tenho de ser alguém fora desses dois contextos?
   Mas a questão é pertinente e insiste em colocar-se: para além da dona de casa e da profissional, quem é esta pessoa que sou eu, quais são os meus interesses, os meus escapes?
   Com toda a naturalidade, fui capaz de dizer que não tenho. O trabalho é o meu grande interesse, o meu grande prazer, e não preciso de outro, porque quando lá estou posso fazer tudo o que me apetece, além do que me é estritamente exigido. Claro que isso pode ser encarado como, simplesmente, mais trabalho - isto é, algo que não conta como resposta válida para a pergunta. Mas se o faço com tanto interesse e gosto... ?
   Serei assim tão quadrada, que só penso em trabalho, ou estarei, mais uma vez, a tentar convencer-me de que a Terra é quadrada?
   Um dia, fiz uma apresentação em Powerpoint para mostrar aos meus alunos (que deveriam fazer, também eles, uma semelhante), subordinada ao tema "Quem sou eu?". O objectivo era dar-me a conhecer em 5 minutos. Acabo de rever o ficheiro, feito há 5 anos, e de facto quase tudo o que eu mostro de mim se prende ou com a minha experiência enquanto mãe e mulher, ou com as minhas vivências e aspirações profissionais. O que resta são aspectos quase insignificantes que contribuem para dar a conhecer o meu carácter, mas não permitem identificar uma "terceira dimensão" em que eu me possa situar, para além da vida familiar e doméstica, por um lado, e da vida profissional, por outro.
   Posso dizer, por exemplo, que tenho uma paixão pelas viagens, que estou sempre a sonhar com o próximo lugar do mundo que desejo descobrir, para conhecer outras paisagens, outras gentes, outras culturas? Não. Haja dinheiro para elas, e todas as viagens serão muito bem-vindas, mas não posso dizer que se trata de uma dimensão importante do meu ser, porque passam semanas, meses, talvez mesmo anos sem que eu pense nisso ou sinta a falta de passear pelo mundo, por mais agradáveis que sejam as experiências que vou tendo.
   Posso dizer que sou uma amante da natureza ao ponto de não conseguir viver sem me embrenhar por ela regularmente? Nem por isso. Amo a natureza, sim, mas tenho de admitir que vivo imersa no meu mundinho urbano e que sou capaz de viver sem ela, por mais que a ame. Preciso de saber que ela existe e está de boa saúde, sim. Mas a verdade é que, pelos vistos, não me faz falta ir lá verificar de vez em quando. Faço as minhas caminhadas circulares perto de casa, pelo exercício, mas não posso dizer que é para estar perto da natureza, porque isso me preenche. Por mais que eu gostasse de ser assim, por mais que eu até quisesse acreditar que sou assim... Afinal não sou.
   Então, quem sou eu, para além de workaholic e dona de casa desesperada?
   Não quero acreditar que não sou mais nada.
   Talvez precise de uma ajudinha para descobrir.


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