Após um passeio particularmente propício para a reflexão, concluo o seguinte:
Nos meus esforços constantes (ainda que quase sempre inglórios) por melhorar a pessoa que sou, não me importam as coisas de que me arrependo, importam-me sobretudo aquelas de que me envergonho.
Explico: o arrependimento serve apenas a própria pessoa, é uma angústia psicológica. Um eremita pode arrepender-se todos os dias do que faz, mas esse arrependimento é inútil do ponto de vista social, porque ele não se relaciona com ninguém.
A vergonha, pelo contrário, é uma angústia moral. Como não vive em sociedade, é muito pouco provável que um eremita sinta vergonha de algo que faz ou fez. Para si, é a vergonha que é inútil - porque o arrependimento pode ajudá-lo a evitar situações semelhantes às que lhe causaram esse sentimento, ao passo que a vergonha só faria sentido se ele se visse confrontado com o juízo de outrem.
Mas para o Homem social, a vergonha é muito mais importante e consequente do que o arrependimento. É a vergonha que nos coloca em face dos outros e nos conduz ao auto-aperfeiçoamento, para evitar situações futuras em que as nossas atitudes perante os outros nos causem angústia.
Por isso, mesmo que na origem da vergonha e do arrependimento esteja o mesmo acto, o importante é avaliar que tipo de angústia sinto perante o que fiz: se for apenas arrependimento, só me serve a mim. Se for vergonha, serve-me a mim e aos outros com quem convivo.
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