quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Mito do Contexto de Karl Popper


    Constitui um facto encorajador que inúmeros homens, dos tempos antigos aos modernos, tenham estado dispostos a viver e a morrer pelas suas convicções, por ideias - ideias que acreditavam serem verdadeiras.
    O homem, podemos afirmar, parece ser menos um animal racional do que um animal ideológico.

Karl Popper (1963)

Será de facto encorajadora esta característica humana? Sabemos que ela é a razão de muitas lutas, de muita intolerância, de muita incompreensão. As convicções levadas ao extremo de se revelarem razão de viver e de morrer (ou matar) parecem-me sempre assustadoras, irracionais - como o autor sugere.
Devo admitir que uma pessoa sem convicções me parece imatura, incompleta, fraca (perigosa, também, à sua maneira, porque facilmente a falta de convicções se pode associar à falta de escrúpulos).


Mas as convicções deixam-me desconfortável, porque facilmente se tornam dogmáticas, encerrando os indivíduos, ou os grupos, ou as sociedades, em "contextos" ideológicos que dificilmente contactam entre si.

Se eu quiser prezar acima de tudo a tolerância, parece-me que as convicções têm de ser suficientemente brandas para que não se viva necessariamente por elas e para que não se queira morrer por elas, pois quaisquer convicções podem ser substituídas por outras. Por exemplo, a crença de que Deus não existe deve poder dar lugar à crença de que Deus existe, e vice-versa. Não aceito bem que se viva e se morra em função de uma ou de outra.Mas não será esse primado da tolerância uma convicção forte ao ponto de merecer que se viva por ela?

Fiquei confusa.



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