Pequena e franzina,
a Matilde é um ser delicado.
Olhos de vidro azulado
cabelos suaves
pele macia
uma boneca
de porcelana -
se não se mexesse
é o que ela parecia.
Basta pouco
para a fazer feliz:
uma canção conhecida
um livro ilustrado
um passeio, ver o mar
Um abraço terno
palavras amigas
um rebuçado
alguém para conversar.
Nem sempre se porta bem.
Coitada, afinal
há tantas tentações!
E depois não tem mãe -
quem é que vai ter coragem
de abrir a torneira
aos seus olhos chorões?
É tão inocente
a Matilde...
nunca faz por mal!
E até se arrepende
pede desculpa
envergonhada
porque acredita
que será castigada
se não for boa menina.
De resto, nem dá maçada.
Fica horas distraída
a fantasiar
metida consigo
até fala sozinha!
É tão sossegada
coitadinha.
Eterna criança,
não há dúvida,
tal e qual como elas,
só com uma diferença:
não gosta nada
de fazer anos.
É que da próxima vez
a Matilde
coitada
já faz noventa e três.
3 comentários:
A sua sensibilidade está demonstrada neste poema. Mais do que palavras que têm rima e ritmo está aqui um olhar humano, delicado que se enternece com a idade. Lindo e, de certeza, a Matilde agradece a ternura da lembrança.
A Matilde não existe. Ou melhor, até existe, mas não me conhece. Em todo o caso, obrigada!
Amei!
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