terça-feira, 14 de dezembro de 2010

No Centro de Saúde

Na sala de espera do Centro de Saúde. Cheguei cedo de mais, mas esqueci-me de levar o resultado de um exame para a médica ver. Tão típico...
Sento-me de lado e encosto a cabeça à parede, desejando que a tosse pare e sentindo uma enorme vontade de me levantar e ir embora para casa, meter-me na cama, dormir e esquecer. A espera parece interminável, como sempre.
Agora já não é cedo de mais, está mais do que na hora de me chamarem... mas nada. Tão típico. Da última vez, enganei-me no andar. No entanto, hoje tenho a certeza de estar no piso certo. Vou à casa de banho e penteio-me, para melhorar este ar de bicho do mato saído da toca.
Volto a sentar-me e começo a ser invadida por uma tristeza muito grande, que ameaça pôr-me a chorar. Não pode ser! Sou adulta, não sou uma criança, não faz sentido começar a choramingar só porque quero sair daqui. O que seria?! Mas sinto-me tão indefesa, frágil e carente de atenção... Se alguém me viesse abraçar e pegar ao colo, como se faz a um pobre bebé sozinho, eu ter-me-ia sentido tão bem!
É inevitável: as lágrimas começam a assomar aos olhos. Baixo a cabeça e deixo-as subir e cobrirem-me a vista, limpando-as discretamente antes que pinguem no chão. Há outras duas ou três pessoas na sala, de certeza atentas a tudo o que se passa, porque não há mais nada para fazer.
 Tiro um lenço de papel da carteira e assoo-me. Será que alguém percebeu? O que é que interessa?


A enfermeira vem finalmente chamar-me - logo agora que estou nesta figura lamentável. Levanto a cabeça novamente despenteada e procuro disfarçar, sem a olhar directamente. «Sente-se bem?», pergunta ela, atenta e preocupada. «Nem por isso, estou doente...» respondi. «Pois, estou a ver... até os olhos estão lacrimejantes!».

Se calhar é uma doença, também esta, de chorar assim como um bebé, quando há uma contrariedade qualquer na minha vida. Ou apenas mimo. Ou falta dele. Ou tudo à mistura em doses confusas que nunca serão medidas.

3 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Sente-se fragilizada, o que é natural! Isso é o resultado de muito dar e agora precisar de receber. A doença é o momento que nos mostra quanto carentes nós somos.
Não, não é uma doença essa coisa de chorar! É uma necessidade, é um grito de alma, é um apelo, é, ao cabo e ao resto, o grito de alguém que clama por atenção quando a dá aos outros em todos os momentos. Chorar não é uma fraqueza! Às vezes, faz muito bem!
Desejo-lhe as melhoras e, por favor, chore, deixe que as lágrimas caiam dos olhos, pois são formas de se compensar pelo muito que, certamente, tem dado nos momentos em que se sente bem e forte.

Dulce disse...

Escrevia Alberto Caeiro: "Quando estou doente, estou doente todo. Ideias e tudo." É isso. Deixa as tuas lágrimas em paz - elas são jovens, precisam de sair... :))

Isa Maria disse...

uma necessidade de deitar pra fora o mal que o interior sente e de o partilhar, mesmo com anónimos e que nos confortem depois. è o acumular de tensões e a sensibilidade da pessoa que leva a este estado de choro.
Espero que esteja melhor.