sábado, 6 de novembro de 2010

Avesso

Sei que não posso, que não devo e, de certo modo, nem quero. Mas gostaria tanto de poder dizer tudo a toda a gente, sem medo de ferir, de ofender, de ser inconveniente. Há qualquer coisa em mim que anseia por deitar tudo para fora, como se eu tivesse vindo ao mundo virada do avesso e uma força interior me quisesse fazer dar uma volta sobre mim mesma, espalhando pelo chão tudo o que está cá dentro, como faço aos bolsos dos bibes do Vicente antes de os pôr na máquina de lavar.
Sacudir, limpar tudo, esvaziar, libertar, baralhar para não voltar a dar.

1 comentário:

Luís Alves de Fraga disse...

«(…) poder dizer tudo a toda a gente, sem medo de ferir, de ofender, de ser inconveniente».
Os receios ou medos que tem são os limites do social, do diplomático e do correcto. Compreendo o que gostava, o que desejava, mas sei que compreende quanto a vida em sociedade se tornaria impossível se não respeitássemos as barreiras que nos impomos para evitar o conflito. Claro que essas barreiras geram um conflito psicológico pessoal e, por vezes, são causadoras de distúrbios comportamentais, mas a sua ausência não os geraria de outra forma?
A Vida é uma constância de equilíbrios que se não resolvem antes da utilização da “máquina de lavar roupa”! Mas, a verdade é que, no final do século XIX, Freud veio tornar laico o que a Igreja Católica, de certa maneira, já praticava com resultados individuais minimamente aceitáveis: a confissão auricular! Substituiu-se o sacerdote pelo psicólogo e a penitência pela introspecção terapêutica com regressões à infância. São as “válvulas de escape” que, às vezes, podem ser substituídas por um amigo, seja masculino ou feminino. Tem é de se ter certezas quanto ao amigo, porque o sacerdote e o psicólogo têm códigos deontológicos a respeitar!
Fui longo, para não variar...