quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Tiago

Olá, Tiago.
Este é o e-mail que nunca te cheguei a escrever.

Estupidamente, ao saber da tua morte, ocorreu-me o pensamento de que, se eu te tivesse escrito, talvez ainda estivesses vivo.
Eu sei, isto não faz qualquer sentido. Nem eu te conhecia, praticamente, nem tu me prezarias ao ponto de achares que valia mais a pena viver por eu me lembrar de te dirigir algumas palavras.
Mas estas coisas estúpidas ocorrem-nos na mesma, ainda que saibamos que são absurdas.
O certo é que não consigo deixar de pensar em ti, desde que soube.
Admirei-te logo, quando nos conhecemos. Pareceste-me uma pessoa tranquila, lúcida, alguém que sabia o que queria. Não tive dúvidas de que eras inteligentíssimo e senti-me quase orgulhosa de ti quando percebi que, tão novo, já eras vogal da Direcção de um Instituto tão prestigiado e importante para a nossa língua e cultura.

Agora percebo que muito do que eu vi em ti foi apenas o que escolhi imaginar. E, mesmo que não tenhas tido a intenção de te esconder por trás de uma máscara, eu não soube nada sobre ti, nem mesmo o que pensei ter percebido.
E está bem assim. Não precisei de saber, nem preciso de saber agora. Não preciso, sequer, de compreender as razões que te trouxeram a morte tão prematura e tragicamente. Se foste tu que a causaste, admiro a tua coragem para pores termo à única coisa que temos como certa. A coragem que alguns chamam de cobardia, mas que para mim não o é.
Só precisei de te ter visto. De ter conversado contigo. De te ter imaginado perfeito, feliz.
Isso é suficiente para chorar por ti agora, por tudo o que ninguém fez para que fosses, de facto, feliz, por não te termos sabido manter aqui.

4 comentários:

Alecrim disse...

Eu li este post. E por não poder comentar, calo-me. Mas queria que soubesses que li.

tikka masala disse...

Obrigada por voltares sempre, Alecrim. Nunca me esqueço de ti, sabes? Um beijo.

Anónimo disse...

a chorar estou... pelo tiago e por estas palavras tão profundas...
sandra

Vida de Praia disse...

(glup... engoli en seco...)