sábado, 14 de outubro de 2017

"Isso é consideração a mais"

Foi o que me disse uma pessoa, a propósito de eu me ter desculpado, via Facebook, por não lhe ter dado atenção suficiente numa conversa que tivemos antes e que foi interrompida quando alguém veio falar comigo.
A minha primeira reação foi pensar que era falta de autoestima, de segurança, de noção do valor próprio. Senti um misto de pena, indignação, identificação, e vontade de contrariar aquela ideia. Mas não fiz nada. Absolutamente nada. Continuámos a conversar, retomando o fio que fora interrompido na ocasião anterior. Mas depois de ter voltado para casa, pensei para comigo: «Não existe tal coisa. Nunca se pode ter "consideração a mais" por alguém. Essa pessoa é que pode não ser capaz de aceitar toda a consideração que lhe damos.»
Mas aquilo ficou a remoer cá dentro. E depois vi as coisas de forma diferente. Pareceu-me que, afinal, a consideração "a mais" que eu tinha demonstrado podia mesmo ter sido excessiva, despropositada, abusiva ou se calhar invasiva.
Atiro-me de cabeça, é o costume. Desde que me lembro que sou assim. Não sei ser razoável, agir de forma sensata, de acordo com as circunstâncias e o grau de familiaridade ou falta dela. De repente, dá-me vontade de mergulhar na intimidade com quem não a tenho, de partilhar tudo o que sou com quem só quer saber uma parte, de me despir junto de quem prefere ver-me vestida (em sentido metafórico, sim?).
Desmesuradamente, desmedidamente, despropositadamente, atabalhoadamente. Sou eu a ser. Por vezes a menos, mas sobretudo a mais.


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