segunda-feira, 22 de junho de 2015

A magia do armário verde


Ontem à noite lamentei-me por não estar a ler nada.
Devia estar a ler um romance, alguma coisa com sumo e qualidade estética (além do livrito que tenho na mesa-de-cabeceira, para dez minutos de entretenimento antes de adormecer), há muito tempo que sou escrava da preguiça e da "falta de tempo" (que é uma desculpa esfarrapada, obviamente). Os dois últimos romances que comecei a ler, meses atrás, ficaram abandonados e desprezados, de tal modo que já desisti de voltar a pegar-lhes nos tempos mais próximos. Um era A História do Cerco de Lisboa, que me desiludiu e aborreceu bastante, pelo que o devolvi ao dono. O outro é O Falador, de Vargas Llosa, que me interessou, mas não o suficiente para o devorar com entusiasmo.
Ele confessou que tinha acabado de pensar exatamente o mesmo, que devia estar a ler um livro. Ainda para mais, o momento era altamente propício: estávamos os dois a aproveitar o ar fresco, a vista desafogada e o sossego do ambiente.
Então lembrei-me de propor: e se fôssemos os dois ao armário verde, onde estão vários livros que nos foram oferecidos e ainda não lidos, entre outros (poucos) já lidos por um ou pelo outro? E se agora mesmo déssemos uma vista de olhos pelas prateleiras e escolhêssemos cada um um livro, para começar a ler de imediato? Se não gostarmos, voltamos ao armário e escolhemos outro. Até acertarmos num que não queremos largar.
Foi dito e feito. Acendemos a luz da sala e olhámos para o conteúdo do armário com interesse. Eu topei logo um romance que devia ser giro, Até nos Vermos Lá em Cima, mas logo a seguir outro, The Kitchen Boy, que talvez devesse ler primeiro, uma vez que era emprestado e já me tinha sido pedido de volta. Ele ficou mais hesitante. Então aconselhei-lhe o Navegador Solitário, pondo-o nas suas mãos. Ele ficou reticente, ao ler as primeiras linhas. Mas eu insisti e lá fomos os dois para a varanda, cada um com o seu novo companheiro.
Ele riu à gargalhada, eu engrenei na leitura com tanto interesse, que apesar de me ser normalmente difícil concentrar, nem a risota dele me distraiu. Como eu desejava, nem foi preciso voltar ao armário verde. E hoje, quando cheguei ao emprego, reparei que até tinha trazido no saco, talvez por "lapsus biblios", o livro que agora ando a ler!

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