quarta-feira, 28 de março de 2012

O dia que fará a diferença

Gosto de acreditar que no dia de hoje há um pormenor importante: é o primeiro de uma nova fase na minha vida.
Que bom seria se isto fosse verdade, se eu conseguisse finalmente, numa palavra, CONTROLAR-ME.
O meu problema resume-se a isto: não me consigo controlar, quando os nervos tomam conta de mim. Chego a pensar, nos últimos tempos, que preciso de ajuda psicológica, de terapia. Parece-me que sozinha não vou conseguir, porque as pressões são muitas e constantes. É o problema de tantas mães, que se vêm obrigadas a conjugar as carreiras profissionais, as obrigações domésticas, a educação dos filhos, a vivência conjugal e sabe-se lá o que mais, porque a vida é complicada e precisamos de tratar de mil assuntos por semana, de fazer biscates para ganhar mais uns trocos, de ajudar os amigos ou de nos sentirmos mal porque não nos sobrou tempo para eles. Pois. Não sou a única com este tipo de problema. Eu sei. Mas sou a única que tem de lidar com isso dentro de mim, porque sou eu e não outra pessoa.

Nas alturas piores, sinto-me uma merda. Parece que não faço nada de jeito, que dou atenção a mais ao que não devo e atenção a menos ao que devia. Enchi o frasco com areia e agora já não posso lá pôr as bolas de golfe, para usar a imagem sugestiva de um texto que recebi ontem por e-mail.
Nas alturas piores, desato a barafustar com as pessoas que me estão próximas e que de alguma forma posso culpar por uma qualquer parte do problema cuja responsabilidade me parece injusto caber-me a mim. Porque é que só eu é que me lembro de dobrar e arrumar roupa, de pôr máquinas a trabalhar, de passar a ferro, de limpar o pó? Será que todos os maridos pensam, secretamente, que é só por terem "a mania das limpezas" que as suas mulheres se dobram sobre a sanita e a esfregam meticulosamente? Às vezes penso que sim.
Em todo o caso, será isso motivo para que eu perca as estribeiras e desate a cascar em tudo e todos, porque NÃO ME AJUDAM?? Será razão para que, mesmo quando alguém me ajuda, eu me queixe de essa ajuda ser insuficiente? Será justificação para o facto de eu lidar mal com tudo o que preciso de fazer e descarregar nos outros a minha ansiedade por me sentir incapaz de dar conta de todos os recados?
Não pode ser. Então, o que fazer?
Nos dias melhores, acredito que há uma solução para isto, tem de haver. Se não a encontrar, corro sérios riscos: o de dar cabo da harmonia familiar que possa existir lá em casa, o de dar cabo da minha relação conjugal, o de fazer com que os meus filhos se sintam mal comigo, o de não conseguir fazer a tese de doutoramento, o de acabar sozinha e frustrada. Nos dias melhores, sinto (quase que sei) que isso não vai acontecer, porque há muitas mulheres na minha situação que conseguem sobreviver, e seria ofensivo para as que estão em situações piores não ser capaz de ser bem sucedida, com a sorte que tenho, apesar de tudo. Nos dias melhores, respiro fundo e começo por pensar que isto não é assim tão mau e que basta viver um dia de cada vez.
Nos dias assim-assim, tento dar a volta, mudar realmente, ter outra atitude, mais construtiva e tranquila. Há uma frase recorrente, quanto à minha (in)capacidade para me controlar, que me foi atirada há tempos pelo meu marido e que relembro com vontade de lhe obedecer, mas ao mesmo tempo ferida pela acusação implícita: «com os teus alunos consegues controlar-te. Se consegues com eles, também consegues em casa.»
Conseguirei eu fazer isto? E a artificialidade que implicará no início, fazer de conta que estou a falar com os meus alunos, para não me zangar despropositadamente com os meus filhos, só porque eles estão a embirrar um com o outro? Será que vou ter a presença de espírito, a calma distante necessária para fingir que eles são meus alunos? A quente, quando estou irritada, está-se mesmo a ver o que acontece: ao ouvir a vozinha da consciência a sussurrar-me «lembra-te: eles são teus alunos, eles são teus alunos!...», o mais certo é gritar um palavrão. E depois vem, claro, o arrependimento, as lágrimas, a sensação vergonhosa de ter falhado irremediavelmente, mais uma vez.
Nos dias assim-assim, quero acreditar, mas tenho reservas. E se...? Pergunto-me. E se eu não conseguir isso, que outras técnicas é que posso usar para me controlar? E se eu tentasse antes diminuir a quantidade de responsabilidades que me cabem, gerir melhor as tarefas, de maneira a não andar tão enervada com tudo o que tenho para fazer? E se...?
Nos dias assim-assim, acabo por ficar baralhada e num impasse. Mas a esperança mantém-se, porque é preciso mudar.
E se o dia da mudança fosse hoje?

3 comentários:

Vida de Praia disse...

É isso: respira fundo! E tudo se resolverá, com calma e o cérebro oxigenado ;-)

Isa Maria disse...

Tikka, há muito que por aqui não passo. Não resisto a deixar uma palavra. É que estas palavras poderiam ser minha pois descrevem tão bem o que sentem. Mas não são pois nunca me dua a coragem ou o saber de as escrever. Assim, o seu braco é igual ao meu. Será que algum dia conseguiremos controçlar os nervos? Ou vamos deixar os nervos contolar a nossa vida e torná-la difícil? Quem me dera ter uma resposta. Espero que neste momento esteja atudo bem consigo e que essedoutoramento esteja já feito. Merece-o.

tikka masala disse...

Obrigada pelas simpáticas palavras, IsaMaria. Isso do doutoramento é que seria mesmo bom... mas ainda falta TANTO! É hoje o meu maior motivo de ansiedade e sê-lo-á nos próximos tempos (1 ano pelo menos, provavelmente mais). Mas é muito bom ter alento. E a sua mensagem também conta! Tudo de bom para si.