sábado, 18 de setembro de 2010

A minha noite

Ding... ding... ding... faz o sino da capela de Nossa Senhora do Cabo no silêncio da noite que ainda agora começou. Silêncio relativo, porque ainda há carros que passam («Ó mãe, não há nenhuma hora em que os carros estejam todos parados?») e cães que ladram só eles sabem porquê.
A varanda é onde apetece estar, embora em camisa de noite já tenha frio, neste Setembro que vai a mais de meio. A varanda. Ilusão de possuir um pedaço do mundo, fora das portas das nossas paredes. Estar fora e dentro ao mesmo tempo, respirar o ar relativamente livre da cidade e ver o céu à frente, com o rio por baixo, os montes a meio e o aglomerado de construções que é impossível ignorar. Poder chamar-lhe a minha vista, como se o que os meus olhos alcançam me pertencesse.

E porque não? Ainda há poucos dias reli O Principezinho. São minhas as estrelas que brilham lá no alto, são os meus aviões que passam entre elas, é a minha coruja branca que esvoaça rente ao prédio. A noite é minha, posso fazer dela o que quiser. Porém, escolho deixá-la acontecer, como o soberano sensato, que era rei de todas as criaturas mas nunca lhes ordenava senão o que elas podiam cumprir.
Estende-te, noite. Vive o teu momento e inspira-me. Observar-te é suficiente para mim.

1 comentário:

Luís Alves de Fraga disse...

Tudo o que a nossa imaginação quiser pode-nos pertencer. O mais preso dos prisioneiros tem a maior liberdade da vida quando, ainda, imagina.