quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Luto

Quando o revi, após a minha ausência durante a fatídica semana em que ele se tornou doente, senti-lhe o cheiro da morte. Podem não acreditar, mas conheço o cheio da morte, pelo menos nos bichos. E não sei como, acho que é por ter prestado atenção, sempre que tive a triste oportunidade. Cadáveres de gatos semi-escondidos no meio das ervas, num qualquer passeio, o meu outro cão, morto nos meus braços há 18 anos, um odor que se me tornou familiar. Senti-o de imediato e soube que ele não iria durar muito. Não me enganei.

Neste momento, só queria poder falar com a minha filha sobre isso, para poder abraçar-me a ela e chorar, chorarmos as duas, enchendo-nos uma à outra da ternura que faltou dar ao bicho. Mas não posso, não devo. E sozinha, as lágrimas não me ocorrem.

No Canal Panda, insistem em não passar a fotografia dele que enviámos. Habituámo-nos, ao longo de meses, a parar e ficar a ver os animais de estimação que se sucedem, à espera de o ver. Hoje, fiquei hesitante, com medo que ela se entristecesse naquela ocasião. Mas ela propôs, com alegria: «podíamos mandar outra fotografia, comigo e o mano e ele, os três!» E eu respondi, com disfarçado pesar: «agora já não podemos, não o temos aqui connosco!...» Foi então que compreendi que ela ainda não percebeu a morte do cão: «Mas vamos ter, mãe!» - corrigiu, determinada.
Deve pensar que ele ainda está no hospital e vai voltar para casa. E está bem assim. Porque um dia vai deixar de pensar nisso e simplesmente obliterá-lo da memória. Mas eu não posso, nem quero. E está bem assim também.

3 comentários:

Vida de Praia disse...

Ainda bem que não percebe ainda - que mantenha a inocência durante o mais tempo possível...

tikka masala disse...

Na verdade, foi um mal entendido. Eu disse que ele tinha morrido e depois que estava no hospital. Ela percebeu que ainda podia curar-se e que voltaria para casa. Agora já falámos sobre isso e está tudo esclarecido. Por mais que pensasse que dizer-lhe que ele estava vivo ainda, algures, era melhor para a idade dela, não consegui. Não quero que ela um dia se recorde da mentira que eu lhe contei :)

Vida de Praia disse...

Acho que fizeste bem - as crianças não gostam nada de apanhar os adultos em falta...