À porta do instituto, uma aluna minha levantava dinheiro no Multibanco, enquanto eu esperava para fazer o mesmo.
Aproximam-se duas mulheres com ar estrangeiro a vender calendários. Uma entra no restaurante ao lado, enquanto a outra vem ter connosco: «Compra um, por favor, ajuda, sou muito pobre, para comer...» Respondo que não, enquanto a minha aluna, que se afastava da máquina Multibanco, se oferecia para comprar uma sopa, pois também não estava disposta a dar-lhe dinheiro.
A mulher aceitou a oferta, mas continuou a olhar-me e a lamentar-se, com a sua ladainha. Mas eu não voltei atrás e disse-lhe: «olhe. Aquela senhora está à sua espera!»
Afastei-me cheia de remorsos.
Pouco depois, passei pela Buraca e vi um senhor preto de muletas, carregando um saco de compras e com óbvia dificuldade em movimentar-se. Arrastava-se lentamente em direcção à subida para a Cova da Moura. Parei o carro à frente dele e convidei-o a entrar, oferecendo-me para o levar a casa. Ele aceitou, mas apressou-se a avisar-me: «É lá na Cova da Moura...»
Não hesitei, até porque já calculava. Levei-o até ao destino, um lugar ainda longe, bem lá no alto, no coração do bairro. Declinei o convite para almoçar lá em casa e despedi-me, levando comigo a revista que ele me ofereceu para ler, depois de me revelar que era uma testemunha de Jeová.
Terá sido o remorso que me fez oferecer boleia ao senhor preto? Foi para me redimir, por não ter dado nada à senhora dos calendários?
Talvez...
5 comentários:
Independentemente da razão, parabéns pela atitude! É tão raro hoje em dia as pessoas oferecerem ajuda.
Eu prefiro ajudar do que dar dinheiro. Esse, sim, cala consciências.
Olha, faço minhas as palavras da Sc.
Talvez... ou talvez porque numa situação te tentaram forçar e manipular a ajudar e na outra escolheste tu.
Penso que teve muita sorte. Porque, hoje em dia, explora-se muito o sentimento de solidariedade como armadilha para um assalto ou coisa pior.
O senhor da Cova da Moura não me pediu nada e ficou bastante surpreendido com a minha oferta. Nesse sentido, acho que não tinha nada a temer.
Tens razão, Vida de Praia. É bom podermos escolher quem queremos ajudar. Nem sempre apetece, embora seja injusto julgarmos os que nos pedem ajuda pela sua aparência ou mesmo atitude.
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