Numa festa, uma estranha mulher de olhar penetrante e enormes pêlos brancos no queixo mete conversa comigo.
Perturba-me o à-vontade com que ela me dirige a palavra. Os olhares comprometidos dos outros, que a conhecem, confirmam que ela não é uma pessoa normal.
Desejo que ela se afaste, que me deixe em paz, mas ao mesmo tempo a mulher intriga-me, tenho curiosidade em ouvi-la. Pergunta-me o nome do meu filho e pouco mais. Depois permanece junto a mim, expectante mas segura, com uma auto-confiança que me incomoda.
Assusta-me, mas invejo-a. Ela pode ser aquilo a que vulgarmente chamamos uma «louca». Mas o que mais nos assusta nos loucos não é o facto de sofrerem de uma perturbação mental. É a impunidade, a despreocupação com que dizem e fazem o que lhes apetece, indiferentes a todas as convenções sociais, a todos os tabus, a todos os limites.
1 comentário:
Um id à solta e um ego desprendido ;-D
Trabalhando no departamento de psiquiatria, lido com os ”loucos” todos os dias - e reconheço essa inveja da sua descontracção, que por vezes me intimida; muitas vezes também penso que quem me dera ser mais assim...
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